No curto poema “As Mãos de Clarisse”, Auta de Souza expressa seu amor e reflete sobre a beleza das mãos de “Clarisse”, uma presença constante na obra da autora. Por se tratarem de mãos pequenas, provavelmente é a mão de alguma criança.
“As Mãos de Clarisse”, de Auta de Souza
Causam-me tantos martírios
As tuas mãos adoradas,
Com estes dedos de fadas,
Tão formosos e pequenos…
Que eu chamaria dois lírios,
Se houvesse lírios morenos.
Análise do poema “As Mãos de Clarisse”
Neste poema, percebemos de imediato a intensidade da dor amorosa, fonte dos “tantos martírios” que o eu-lírico experimenta diante das “mãos adoradas”. O uso de palavras como “martírios” e “adoradas” remetem a algo sagrado, misturando devoção e sofrimento. Esse amor não parece ser romântico, e sim maternal.
A alusão a “dedos de fadas” é uma metáfora que confere às mãos de Clarisse um poder quase mágico, sobrenatural, tornando-as entidades benevolentes e ao mesmo tempo distantes, tão pequenas (“Tão formosos e pequenos”) que reforçam a delicadeza da imagem projetada.
Há uma habilidosa escolha de comparação com “dois lírios”, símbolos de pureza e nobreza que atravessam a literatura universal. No entanto, a impossibilidade da comparação direta, já que não há “lírios morenos”, sugere uma singularidade e ao mesmo tempo uma barreira étnica ou racial na questão da beleza.
O poema, por fim, vai além da mera exaltação da beleza física, pois a complexidade da beleza das mãos de Clarisse vai muito além do material e aparente.