“A Morte do Autor”, de Roland Barthes

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Poucos ensaios tiveram um impacto tão profundo quanto “A Morte do Autor”, de Roland Barthes. Publicado em 1968, este texto é um marco nos estudos literários, trazendo uma visão radicalmente nova sobre a relação entre o texto, o autor e o leitor.

“A Morte do Autor”, de Roland Barthes

Roland Barthes, em seu ensaio, parte de uma análise específica da obra “Sarrasine” de Balzac, ampliando sua argumentação para uma crítica contundente ao conceito tradicional de autoria.

Sua abordagem desafia diretamente a noção, até então predominante, de que o autor de uma obra literária é a fonte de seu significado, um significado que seria único e fundamental. Ou seja, ele confronta a ideia de que, ao lermos um texto, estamos tentando entender o que o autor quis dizer. Quais eram suas intenções, seus propósitos, seus pensamentos.

"A Morte do Autor" de Roland Barthes

O argumento central de Barthes é o de que atribuir um texto a seu criador é limitar esse texto a uma única interpretação – a do seu autor –, diminuindo assim a variedade de significados que uma obra pode gerar. Segundo ele, há vários significados que podemos tirar de um texto literário, muitos dos quais podem nunca ter nem passado pela cabeça do autor (e que não são “menos certos” por conta disso).

Esta mudança deu origem a novas formas de análise e crítica literárias, e ainda estamos sentindo os efeitos disso nos estudos contemporâneos da literatura.

Pontos defendidos por Barthes

  • Fim da Autoridade do Autor: Barthes argumenta que a escrita aniquila a voz do autor, e que o verdadeiro local de significado não é o autor, mas sim o texto, em si. Ele afirma que “a escrita é a destruição de toda voz, de toda origem”. É justamente isso que ele está querendo dizer decretando a “morte do autor”.
  • Escrita como Neutro: a escrita funciona como um espaço neutro onde o “eu” do escritor não determina a interpretação. É a linguagem que fala, não o autor. Por isso, pouco importaria conhecer a personalidade ou as intenções do autor.
  • Função do Leitor: Barthes dá particular atenção ao papel do leitor na criação de significado. Segundo ele, é o leitor, e não o autor, quem “faz” o texto, ativando-o através de sua leitura. O texto se torna um tecido de múltiplas escritas, onde o significado é determinado no momento da leitura.
  • Texto como Espaço de Multiplicidade: O texto é descrito como um espaço onde diferentes escritas, nascidas de várias culturas e textos anteriores, se conectam e dialogam entre si. Barthes destaca que “o texto é um tecido de citações”, negando a possibilidade de originalidade e autoria singular. Nenhum texto é totalmente único, por mais abstrato e revolucionário que seja.
  • O texto não tem um “Segredo” a ser desvendado: Contra a ideia de que cada texto possui um “segredo” final decifrado pelo autor, que o leitor deve tentar desvendar, Barthes argumenta que essa ideia é uma tentativa de “fechar” o texto. Ao tirarmos a importância do autor do texto, a busca por um “segredo” deixado no texto já não faz mais sentido.
  • Revolução Contra-Ideológica: Barthes vê sua abordagem não apenas como uma atitude literária, mas como um ato revolucionário que nega as hierarquias de poder e conhecimento, incluindo a de Deus, razão, e ciência, ao recusar atribuir um sentido fixo ou definitivo e final aos textos.

Ao destacar a contribuição do leitor na construção de significados, esse ensaio torna a experiência literária mais democrática, sugerindo que cada texto possui múltiplas vidas, tão variadas e ricas quanto seus leitores.

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Alexandre Garcia Peres

Criador do site Literatura Online e Redator, Editor e Analista de SEO com três anos de experiência. Formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com foco em literatura e TCC em Paulo Leminski. Fez um ano de especialização em Teoria da Literatura e sua maior área de interesse é a poesia brasileira, principalmente os poetas da segunda e terceira geração do romantismo.

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