A Luís, de Castro Alves – Análise

O poema “A Luís”, de Castro Alves, é uma homenagem de amizade e nostalgia. Nele, o poeta recorda com saudade os tempos de infância ao lado de um amigo querido, Luís, na ocasião de seu aniversário.

A Luís, de Castro Alves

A imaginação, com o vôo ousado,
aspira a principio à eternidade…
Depois um pequeno espaço basta em breve
para os destroços de nossas esperanças iludidas! …

Goethe

Como um perfume de longínquas plagas
Traz o vento da pátria ao peregrino,
Ó meu amigo! que saudade infinda
Tu me trazes dos tempos de menino!

É o ledo enxame de sutis abelhas
Que vem lembrar à flor o mel d’aurora…
Acres perfumes de uma idade ardente
Quando o lábio sorri… mas nunca chora!

Que tempos idos! que esperanças louras!
Que cismas de poesia e de futuro!
Nas páginas do triste Lamartine
Quanto sonho de amor pousava puro! …

E tu falavas de um amor celeste,
De um anjo, que depois se fez esposa…
— Moça, que troca os risos de criança
Pelo meigo cismar de mãe formosa.

Oh! meu amigo! neste doce instante
o vento do passado em mim suspira,
E minh’alma estremece de alegria,
Como ao beijo da noite geme a lira.

Tu paraste na tenda, ó peregrino!
Eu vou seguindo do deserto a trilha;
Pois bem… que a lira do poeta errante
Seja a bênção do lar e da família.

Análise do poema “A Luís”, de Castro Alves

O poema “A Luís” começa com uma citação de Goethe que reflete sobre como as esperanças humanas são passageiras. Depois, já na abertura, Castro Alves evoca uma sensação de saudade e reminiscência ao comparar a nostalgia que sente a um perfume de terras distantes, trazido pelo vento, criando um conexão entre o passado e o presente: “Como um perfume de longínquas plagas / Traz o vento da pátria ao peregrino”.

Essa conexão com o passado é reforçada pela lembrança dos tempos de menino, época em que seu espírito ainda enchia-se de sonhos e esperanças douradas. A metáfora das “sutis abelhas”, que lembram a flor sobre o mel da aurora, evoca a doçura das memórias infantis e a pureza dos sentimentos vividos naquela época: “É o ledo enxame de sutis abelhas / Que vem lembrar à flor o mel d’aurora”.

O poeta também faz referência ao impacto das leituras de Lamartine, poeta e escritor francês, em suas aspirações e sonhos de menino, destacando o papel da poesia na formação de seu imaginário: “Nas páginas do triste Lamartine / Quanto sonho de amor pousava puro!”. Castro Alves lia bastante os clássicos franceses, especialmente Victor Hugo.

Em seguida, o poema destaca a transformação do amigo, que agora vive um amor maduro e familiar, muito diferente da vida errante do poeta. A imagem da jovem que troca os risos de criança pelo “meigo cismar de mãe formosa” ilustra a passagem do tempo e as mudanças inevitáveis que ele traz.

A última estrofe revela a aceitação dessa separação de destinos: Castro Alves se reconhece como o poeta errante, que segue sua trilha solitária, enquanto abençoa o amigo que encontrou sua “tenda”, sua estabilidade. A despedida é marcada por um tom de resignação e carinho, com a lira do poeta (instrumento de cordas muito associado à poesia) simbolizando a bênção e a continuidade do afeto que ainda nutrirá pelo amigo, apesar da distância: “Pois bem… que a lira do poeta errante / Seja a bênção do lar e da família”.

Pintura "O Jardim dos Poetas", de Vincent Van Gogh. Ilustrando o poema "A Luís", de Castro Alves
Pintura "O Jardim dos Poetas", de Vincent Van Gogh. Ilustrando o poema "A Luís", de Castro Alves
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Alexandre Garcia Peres

Criador do site Literatura Online e Redator, Editor e Analista de SEO com três anos de experiência. Formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com foco em literatura e TCC em Paulo Leminski. Fez um ano de especialização em Teoria da Literatura e sua maior área de interesse é a poesia brasileira, principalmente os poetas da segunda e terceira geração do romantismo.

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