Em “Exortação”, de Castro Alves, o eu-lírico faz uma espécie de ode, de amor e adoração, à sua amada, que o inspira na realização de sua arte.
Entristecido, como uma rosa murcha ou um monge cansado, mas com a esperança de renascimento, ele implora à donzela para que o aceite, oferecendo uma paixão que apenas ele e Deus entendem, um sentimento puro, contrastando com o “mundo imundo” em que vive. Ele até mesmo se coloca inteiramente à disposição da amada, oferecendo a ela todos os seus sonhos e inspirações.
Exortação, de Castro Alves
DONZELA BELA, que me inspira à lira.
Um canto santo de fervente amor,
Ao bardo o cardo da tremenda senda
Estanca, arranca-lhe a terrível dor.
O triste existe qual a pedra medra,
Rosa saudosa do gentil jardim,
Qual monge ao longe já no claustro exausto
Qual ampla campa a proteger-lhe o fim.
O triste existe em sofrimento lento,
Vive, revive pra morrer depois…
Morre — assim corre a atribulada estrada
Da vida qu’rida, soluçando a sós.
Fada encantada, em teu regaço lasso,
Viajante errante, deixa-me pousar;
Lírio ou martírio, abre teu seio a meio,
Estrela bela, vem-me enfim guiar.
Ao mundo imundo, não entrega, nega
Tantos encantos dos amores teus,
Compreende, entende-te a vertigem, virgem,
Somente a mente do poeta e Deus.
Desta alma a palma de risonhos sonhos,
Da mente ardente a inspiração do céu
O vate abate às tuas plantas santas,
Altivo e vivo, sendo escravo teu.