Aves de Arribação
I
Era o tempo em que as ágeis andorinhas
Consultam-se na beira dos telhados,
E inquietas conversam, perscrutando
Os pardos horizontes carregados…
Em que as rolas e os verdes periquitos
Do fundo do sertão descem cantando…
Em que a tribo das aves peregrinas
Os Zíngaros do céu formam-se em bando!
Viajar! viajar! A brisa morna
Tras de outro clima os cheiros provocantes
A primavera desafia as asas,
Voam os passarinhos e os amantes!…
II
Um dia Eles chegaram. Sobre a estrada
Abriram à tardinha as persianas;
E mais festiva a habitação sorria
Sob os festões das trêmulas lianas.
Quem eram? Donde vinham? — Pouco importa
Quem fossem da casinha os habitantes.
— São noivos — : as mulheres murmuravam!
E os pássaros diziam: — São amantes — !
Eram vozes — que uniam-se co’as brisas!
Eram risos — que abriam-se co’as flores!
Eram mais dois clarões — na primavera!
Na festa universal — mais dous amores!
(…)
IV
É noite! Treme a lâmpada medrosa
Velando a longa noite do poeta…
Além, sob as cortinas transparentes
Ela dorme… formosa Julieta!
Entram pela janela quase aberta
Da meia-noite os preguiçosos ventos
E a lua beija o seio alvinitente
— Flor que abrira das noites aos relentos.
O Poeta trabalha!… A fronte pálida
Guarda talvez fatídica tristeza…
Que importa? A inspiração lhe acende o verso
Tendo por musa — o amor e a natureza!
E como o cáctus desabrocha a medo
Das noites tropicais na mansa calma,
A estrofe entreabre a pétala mimosa
Perfumada da essência de sua alma.
No entanto Ela desperta… num sorriso
Ensaia um beijo que perfuma a brisa…
… A Casta-diva apaga-se nos montes…
Luar de amor! acorda-te, Adalgisa!
V
Hoje a casinha já não abre à tarde
Sobre a estrada as alegres persianas.
Os ninhos desabaram… no abandono
Murcharam-se as grinaldas de lianas.
Que é feito do viver daqueles tempos?
Onde estão da casinha os habitantes?
… A Primavera, que arrebata as asas…
Levou-lhe os passarinhos e os amantes!…