Em um mundo marcado por problemas e agitações, onde cada momento parece trazer uma nova fonte de angústia, a busca por tranquilidade de espírito nunca foi tão relevante. Mas essa busca não é recente.
Voltando alguns milênios, encontramos um conceito milenar que transcende o contexto da filosofia antiga, convidando-nos a um estado de serenidade quase inimaginável nos dias de hoje: a ataraxia. Este estado, de plenitude emocional e intelectual, é a base de vários pensamentos helenísticos, especialmente entre os Epicuristas, para quem a ataraxia era o objetivo final de uma vida plena.
O que é a Ataraxia?
A palavra “ataraxia”, derivada do grego antigo, significa um estado de imperturbabilidade ou tranqüilidade mental, onde aflições como a ansiedade e o medo são estranhos.
Não estamos falando de uma simples passividade ou indiferença com tudo o que esteja acontecendo, e sim de uma serenidade forte e ativa, tornando-se imune aos problemas da vida cotidiana e do mundo ao nosso redor. Ou seja, estar ciente dos problemas, mas simplesmente não se abalar por eles.
A verdadeira ataraxia é uma espécie de porto seguro interno, resistente às tempestades do mundo exterior, um estado ideal de contentamento e saúde mental.
De onde surgiu esse conceito?
O conceito de ataraxia surgiu na Grécia Antiga, como um componente importante das filosofias helenísticas como o Epicurismo, o Estoicismo e o Pirronismo
Embora cada uma dessas escolas tenha um conceito diferente e próprio de ataraxia, todas ressaltam sua importância como peça chave para uma vida tranquila, longe das inquietações e turbulências.
Demócrito (480 a.C. – 370 a.C.), filósofo pré-socrático, foi um dos primeiros a associar ataraxia à felicidade, influenciando correntes posteriores a adotarem e adaptarem o conceito aos seus próprios ideais e práticas.
Ataraxia e os Epicuristas
Para os adeptos de Epicuro, a ataraxia não é apenas desejável, mas o ponto mais alto da realização pessoal. A escola Epicurista defende que o prazer – hedone – é o bem supremo, o objetivo definitivo da vida.
Porém, diferentemente de uma interpretação superficial que poderia sugerir uma entrega hedonista a satisfações imediatas e prazeres carnais, o prazer epicurista é diferente, pois ele diferencia os prazeres físicos dos prazeres mentais; estes últimos são considerados infinitamente mais valiosos.
Os prazeres do corpo são passageiros, enquanto os prazeres da mente, que alcançou o estágio de ausência de perturbação (aponia) e passou a ser dominada pela serenidade (ataraxia), são duradouros e essenciais para uma vida feliz.
Como a Ataraxia seria alcançada?
Para os Epicuristas, atingir a ataraxia envolve várias práticas e perspectivas de vida, tais como:
- Distanciamento das perturbações físicas: Buscar a aponia, ou seja, a ausência de dor física.
- Desenvolvimento de prazeres mentais: Priorizar prazeres mentais e deixar de lado os físicos, criando alegrias que sujam de memórias agradáveis, amizades valorosas e reflexões intelectuais.
- Compreensão e aceitação do funcionamento do mundo: Realizar um estudo da natureza para entender suas leis inalteráveis, diminuindo o medo do desconhecido e reduzindo o sofrimento por meio da aceitação de que não é possível controlar o mundo o mundo ao nosso redor.
- Prática da virtude: Adotar um modo de vida marcado pela simplicidade, pela integridade e pela autossuficiência, eliminando desejos considerados “naturais”, mas não necessários.
- Foco no presente: Dedicar-se total ao momento presente, deixando para trás preocupações passadas e evitando preocupações futuras, já que elas fogem do nosso controle individual.