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A Júlia, de Auta de Souza

O poema “A Júlia”, de Auta de Souza,  retrata a expressão de uma melancolia indefinida e a dualidade entre tristeza e alegria. Leia-o na íntegra e confira uma análise detalhada em seguida!

A Júlia, de Auta de Souza

No teu olhar, cheio da luz chorosa
Que envolve o Espaço quando a tarde expira,
Bóia uma doce mágoa lacrimosa,
Uma saudade indefinida gira.

E quando afirmes que não tem começo
A dor sem fim que no teu seio existe
Queres assim, eu muito bem conheço,
Fazer-me crer que já nasceste triste.

E falas a sorrir: “Essa dolente
Tristeza amarga que me empana o olhar
É a vaga chorando eternamente
Por não poder se separar do mar…”

E se te fito a umedecida boca
E vejo rubro o lábio que sorri,
Logo pergunto, num cismar de louca,
À mente e ao coração, se és tu quem ri.

Pois é tão mansa a chama destes olhos
Envoltos na carícia do sorriso,
Que eu penso que teus cílios são abrolhos,
Abrolhos rodeando um paraíso..

Análise do poema “A Júlia”

Neste poema, Auta de Souza retrata a personagem Júlia em uma dualidade constante entre a tristeza e a alegria. A autora utiliza elementos visuais e emocionais para expressar essa ambiguidade através da descrição do olhar de Júlia.

No primeiro verso, Auta descreve o olhar de Júlia como cheio de uma luz chorosa, o que cria uma atmosfera de melancolia. Essa luz que envolve o espaço quando a tarde expira simboliza uma saudade indefinida que gira dentro dela. A saudade é representada como uma doce mágoa lacrimosa, ressaltando a complexidade de sua emoção.

No segundo trecho, Auta de Souza aborda a dor que Júlia carrega em seu seio, afirmando que não tem começo. Essa dor sem fim é uma tristeza profunda e inexplicável. Ela sugere que Júlia quer passar a impressão de que já nasceu triste, utilizando a tristeza como parte de sua essência.

Em seguida, Auta retrata Júlia falando a sorrir, confirmando a dualidade em suas emoções. Ela explica que sua tristeza não é apenas uma melancolia pessoal, mas sim uma tristeza amarga que empana seu olhar. A tristeza de Júlia é comparada à vaga (onda) chorando eternamente por não poder se separar do mar, revelando a intensidade de sua emoção e a sensação de estar presa a algo maior do que ela.

No último parágrafo, Auta de Souza destaca a boca de Júlia, que está umedecida e sorri. No entanto, o eu-lírico questiona se é realmente Júlia quem está rindo, evidenciando a dualidade entre o que é aparente e o que está realmente acontecendo em seu interior. A mansidão da chama dos olhos de Júlia, envoltos na carícia do sorriso, faz com que o eu-lírico pense que seus cílios são abrolhos, ou seja, espinhos rodeando um paraíso.

O poema de Auta de Souza retrata a complexidade das emoções humanas, especialmente a dualidade entre tristeza e alegria. A personagem Júlia é apresentada como alguém que carrega uma tristeza indefinida, mas que ao mesmo tempo sorri e aparenta alegria.

Pintura "L’Absinthe" de Edgar Degas. Ilustrando o poema A Júlia, de Auta de Souza
Pintura "L’Absinthe" de Edgar Degas. Ilustrando o poema A Júlia, de Auta de Souza
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Alexandre Garcia Peres

Criador do site Literatura Online e Redator, Editor e Analista de SEO com três anos de experiência. Formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com foco em literatura e TCC em Paulo Leminski. Fez um ano de especialização em Teoria da Literatura e sua maior área de interesse é a poesia brasileira, principalmente os poetas da segunda e terceira geração do romantismo.

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